quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

medo...(digo-me)


Medo…
M- medir-me, mortificar-me, materializar-me, modelar-me, manipular, medíocre
E- encontrar-me, envolver-me, emocionar-me, elucidar-me
D- duvidar, desconfiar, discernir, disfuncional, decidir, dizer-me,
O- oprimir, obscuro, ouvir, olhar, ofuscar, ocultar, omitir…

Medo do lado sombrio que me habita. Da rua clandestina que desço. Do bater ora veloz ora brando do meu músculo vermelho, do grito agudo, da palavra sussurrada em omitidos lábios, da egoística falta de seres, da cegueira, do holocausto, da catástrofe, da petrificação, do endeusamento a um outro que não eu, de acreditar 1000 vezes, de não voltar a acreditar, de correr sem respirar, de hábitos amarelentos, da rotina esquartejada, da altivez, do ruir do castelo, de nem chegar a construi-lo, de vísceras envenenadas, de falsos ruídos, de radares nos sentidos, da falta de pele, do senti-la em demasia, de ser queimada viva, da soberba de homens de ossos, da falta de dignidade, do idolatrar da ignorância, de cair sem chão, de tombar sem ver um braço, de definhar. De tomar sequer como aperitivo a arrogância, o preconceito, a insolência, a pretensão exacerbada, de me consumir em segundos diários, de atravessar a nado sem bóia, de comer em serviço gourmet um qualquer requinte de desonestidade e pudor, da deslealdade de quem me é, de não ver mais quem me faz parte. De microscópicamente ir lá bem fundo, de não deter o alfabeto gestual aquando da surdez e da mudez, de perder o mistério, de não querer mais partir, de tremer pela minha própria sombra, de tremer por uma outra sombra, da inutilidade, incapacidade, de me quadrificar, de ofegar sem ninguém ver, da amnésia, de não poder lavar mais os olhos com banha de sal, de cuspir o espelho, de perder - pra lá do sem limite - o controle, da overdose de tudo, de me fartar. De não poder mexer a mão, de não poder escrever, de ser ridícula, de ser dependentemente dependente, da esquizofrenia não ter pausa, do adeus, de insinuações, acusações, imposições, perpetuações, multidões, de não abrir a janela, de me faltar o preto e branco e a paleta multicolor, de escorregar na banana de inúmeros macacos, de esquecer o nome da minha árvore e lhe perder a raiz, de me deixar cair as folhas sem regar, de não poder pagar, de não poder gerar, do acidental, do homicídio involuntário, de não ver quem atravessa na zebra da estrada, da fome, da miséria humana, de me tornar miserável, do tumor, torpor maligno. Da morte chegar em pequenas doses, de perder a quimera, de não voltar a trincar com toda a vontade a maça, do amoral, do aborrecimento, do aborrecimento quando sentada na plateia, do tédio, do entediante no trabalho, de não sentir o vigor de ir em cada manhã, de não dormir, da insónia consecutiva, de amorfar, de me tornar amarga, de voar no animal avião, de cair dele, de mergulhar no vazio, da estupidez barata, da nudez gratuita, da venda de mim mesma, da cultura não deixar de ser bem capital - mercadoria de “show-business”, dos “pseudos tudos”, da falta de comunicação, de deixar de conversar no interlúdio de um qualquer tasco ou café, de perder o frente a frente em prol das inovadissimas tecnologias, da humilhação, má criação. De armas e tiros de novo ecoarem na minha cabeça, de perder a noção, de me esquecer da mãe Natureza, de perder tempo para o essencial, do banal, de não voltar a escrever cartas, de voltar a temer a morte da que me gerou, do frio, da solidão, da vergonha corrosiva, de não poder brincar, de não voltar a discutir ideais com a minha avó, do dia em que ela partir, da falta de tempo, de não abraçar, da dor aguda, real, de não ser mulher inteiramente, de me tornar robô, de me esquecer de mim, de não poder cantar, de não poder dançar, de me dizer aqui…medo de…ter medo.