sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Estúpida feliz!!!







Deixo-me de surrealismos... São sete da manhã. Acordo sem dormir, tenho que voar para a casa gigante _ com muitas janelas, mas sem portas _ onde mulheres feridas, ferindo espreitam o sonho, de um dia se esgueirarem pela fechadura! Não lhes levo a chave. Pego ao colo os filhos do medo, que em corpos experimentados nunca quiseram ter..Nascem já sem ar. Como se respira numa casa sem portas, desde o ventre virginal?!

Á tarde revejo outras cores...pedaços de chocolate em olhares marginais. Não desisto, porém. É cedo para achar vencidos em tal campo de batalha. Ouço os gritos da barraca sem chave onde moram! Nada a esconder, portanto. Será mais fácil vencer numa colina sem segredos...onde os "cavalos" não contam histórias de encantar...mas os sonhos moram em corações quentes!
Á noite termino com uma Mala cheia de Artes! Brindando ao cálice da vida, sem saco a esconder o que nas tábuas se mostra despido! Quase toco com os dedos o corpo nu de teus sonhos!
Antes de fechar os olhos, há tempo, ainda, para olhar o meu B.I, ou será passaporte?!
O meu nome vem escrito a letras gordas. E lê-se, afinal: ESTÚPIDA FELIZ!

Simples traça...


Esgueiro-me pelo ranhura do móvel...desço á rua onde dançam duas patas, em múltiplas fileiras. Quem mandou um Pessoa, um Almada esquizofrénico de loucura certeira?!.. Génios em ruas Parisienses, com asfalto limpo. Aqui o chão trepida em caganitas de cão..rafeiro. Passo fugaz, num segundo demente, e vejo a pluma vermelha envolta no pescoço, de um palco que contradiz o guardador de rebanhos! Levo um rottweiler, predador ordinário com a arrogância mordaz de um Pacheco qualquer, o Luís..pode ser. Libertinos e muitos, para o tudo sentir de todas as maneiras! Olho de esgueira, na verdade passeio um Maltês, pêlo ridículo que assina: nobreza! Pequeno cobarde, desnatado em sorriso amarelo..mesmo assim é Paris. Um Paris je t'aime! só porque o asfalto está asseado e a neblina tem um quê de crepúsculo...pequena claridade perdurando após o ocaso do sol..mas é declinío, contudo.

Desço os Champs Elysées e vejo que o "Triunfo" ficou para trás. Tinha que subir , mas como se passeio apenas um rafeiro!? O Maltês esquivou-se de soslaio e foi jantar fora! O rottweiler era um nazi alemão. Deixara-me para pôr os pãezinhos no forno de Dauchaus! Uhhh! Arrepio. Vi-me de repente com oito anos, numa visita contente a um jardinzinho bonito de roteiro turístico alemão!Campo de concentração!
Regresso ao asfalto e tropeço no cócó, cócózinho! (vá, soa melhor!) O Pessoa já reza de novo e solta-se uma "Maternidade" perfeita do géniozinho Almada. Silêncio. Abra-se o pano. Ainda tenho a pluma vermelha "qui m'entour le cu"!!! Sim, envolve-me o pescoço e tenho ainda a trela onde passeio o Maltês...que vida de merda, ainda assim. Constato a certeza de não ter nascido em Paris! Génio de cá, pufff!!! calquei a bosta de se estar só, no reino dos nenhures. Também abro os olhos. Ninguém. Quem me manda beber café, em vez do chá das cinco?!

Subo a avenida e volto ao móvel, onde sou simples traça!

Give me the words... in a manner of speaking (Nouvelle Vague!)

Enfeite de Natal!


No relógio batiam as 25 horas de uma noite dormida á pressa, a chuva secou a roupa, cansada de vestir sempre a mesma pele. O telefone não tocou. Tudo mudo. O olhar em redor parecia alcançar a dimensão de uma dança inacabada. A música não se ouvia, mas via dedos pulsarem o piano. Sequências perversas, cósmicas. Enclausurei-me de tais marionetas, em freeze vi-te calar. Cantavas em gritos, a melodia quimera. Seria Natal?! havia um enfeite na janela. Suposições. Estalei os dedos. Cantavas. Em que banda sonora estaria incluído o plano de teu rosto perfeito?! Olhos sugados, molhados, talvez?! Beijaste-me a face com a voz esculpida...não te via, porém. Relativizei o problema. Resolvi pintar-te. Vinhas de negro. Fitei tua boca. Cantavas. Mudo. A melodia beijava-me a pele.

Não houve tempo de abrandar. Despistei-me. Vi as botas, as tais. Aladino passava. Baralhava. Seria a minha vez de jogar?! Não era sueca, eramos só três. Dois, talvez?! Num segundo caiu, ás de copas. Bati. Não recolhi. Aladino suspenso. Breve arranhão na barriga. Já não moravas ali...no centro esquerdo. Somei pontos nessa jogada, mas não mais tive áses.

Olhei para o relógio que não tinha,(nunca tive tempo!)eram zero horas de um dia qualquer. Cantavas. Era uma sueca. Eramos o par. Não quis o desejo da lâmpada mágica, já não queria a tal banda desenhada. Cantavas tu. Sim tu. Beijavas-me o sangue. Ás de copas. Havia, ainda, o enfeite de Natal na janela...mas não via a porta. Já moravas ali. Nada a fazer. Quis a tua quimera, ouvi a melodia, tua voz esculpida, sugaste-me a face...Já te movias. Já eramos dois. Sim, havia um enfeite. Sim, nasceste ali, na mangedoura queimada do vermelho fogo. Sim moras tu, já, no centro esquerdo. Sim, havia um enfeite. Sim, era Natal!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Grey ( Any Difranco)...what kind of paradise am i looking for?




the sky is grey
the sand is grey
and the ocean is grey
(...)
regretfully
i guess i've only got three
simple things to say:
why me?
why this now?
why this way?

minha pele creme. tua chocolate..mesmos olhos, afinal!


Teus olhos escuros vêem, em negro, o céu comum ..meus como os teus, negros, também. Cobardemente, fingia não te ver quando ofuscava as memórias, cravadas nas glândulas de um passado recente que fingia, longínquo... minha pele creme, a tua chocolate, doce afinal! pinceladas diferentes pelo artesão de mão criadora! Deus, sol, universo... Somos diferentes. O negro dos teus rodopia a três dimensões o que vejo com os meus.

Surpreendes-te-me, ao fazeres-me frente, sem me preparar. Já tinha esquecido (melhor, não lembrado!)...parecias tão longe, deixei-te cair já nas águas, quando parti do toque quente que me impuseste..pelo sol que brilhou em ti e me fez querer para sempre viver, miserável. Pensei. Não te queria ver, não te procurei. Egoísta, cobarde...quis meu banho quente, meu leito divino...quis o sorriso hipócrita, manchado de tom grave, sorriso de papão! Ignorei os ratos, as pestes de baratas, o tiro certeiro, a água imunda e o cheiro náuseabumbo..teu corpo sujo, manchado da virgem terra.

Mentira. Ignorei teu brilho..tua pele quente..ignorei a génese, os primórdios dos sentidos. Igonorei o verbo amar. Ignorei a essência, por minha podridão! Cobarde, temi cada tiro...cada passo, tremi até com a grande máquina que a ti me levou. Revolução nos sentidos. Voltei e não te trouxe. Na bagagem só trazia a pressa de chegar...Inutilmente, fugi do paraíso gravado a sangue...do idílico céu. A lua era a mesma, porém. Rejeitei-a. Raspei-te a pele, não saía dor. "Toma é teu, filho!" Não te quis. Não tive coragem.

Tocou para intervalo, acabei de chegar. Mil e uma pedagogias enquanto já me olhavas. Em reino superior me achei, quando abro a porta, olho a sala...tua pele chocolate...teus olhos negros me fitaram.. não me ensaiei, não houve tempo. Estavas ali. Estás aqui. Perdoa-me. Senti.

gosto de gostar... (escrito em 2005...por aí)


Gosto do mar…de gaivotas. Não gosto de hipocrisias. Gosto de abraços fortes, apertados. Gosto de cheiro a maresia, do vento quente das noites de Verão. Não gosto de ruídos fortes quando tento dormir. Gosto que me digam do que gostam. Gosto do meu tom de pele. Não gosto de filas de trânsito, barulho, falta de ar. Gosto de dançar. Gosto de me sentir leve. Gosto de música. Gosto de cheiro a café, mais do que de café. Gosto de cinema. Não gosto de nozes. Gosto da Primavera, de flores. Gosto de saborear. Gosto de conversar. Não gosto de palavras que doem. Gosto de espaço. Não gosto de água gelada a quebrar-me os ossos. Gosto de livros que me façam viajar e que não me deixem parar de os ler até terminar. Gosto da madrugada. Gosto de conduzir só, com o rádio bem alto para poder cantar. Gosto de comboio. Não gosto de esperar. Gosto de ouvir falar francês. Gosto de Paris. Gosto de Lisboa. Gosto do Porto. Gosto da vista da ponte da Arrábida p'ro rio Douro. Gosto das 7 colinas de Lisboa. Gosto do Tejo. Não gosto que toquem à campainha e não respondam. Gosto de dormir. Gosto de acordar cedo. Não gosto de má educação. Não gosto de limar as unhas. Gosto de viajar. Gosto de chá de menta. Não gosto que me liguem sem identificação. Não gosto de desconfiar. Gosto de acreditar. Gosto de especiarias. Gosto de cozinhar. Gosto de pisar o palco, "representar". Gosto de escrever. Não gosto de esperar na fila do supermercado. Gosto de brincar. Gosto de comunicar. Gosto de nadar. Gosto de falar espanhol. Gosto de andar descalça. Não gosto de ervilhas. Não gosto de mentiras. Gosto de ver. Gosto de ouvir. Não gosto de injustiças. Gosto de amar. Não gosto de insinuações. Gosto do Natal. Gosto de improvisar. Gosto de sapatos. Gosto de cor. Gosto de preto. Gosto de sol, luz. Não gosto de dias de nevoeiro. Não gosto de obras nas ruas. Gosto de frutas tropicais. Não gosto de ironias. Não gosto de fixações. Gosto de desporto. Gosto do antigo, gosto do passado, gosto do presente. Gosto do contemporâneo. Não gosto de ficar com os pés dormentes. Gosto de me rir. Gosto de receber cartas. Gosto de celebrar. Não gosto de me esquecer. Não gosto de obrigações. Gosto do azul. Gosto de pormenores. Gosto de surpresas, de fazer surpresas. Não gosto da ignorância. Não gosto de distância. Gosto da verdade. Gosto de estar com os amigos. Gosto de crianças. Não gosto de despedidas. Não gosto de coisas artificiais. Gosto de diferenças. Gosto de arriscar. Gosto de Portugal. Gosto de oferecer presentes. Gosto de soluções. Não gosto de frases habituais, coisas banais. Gosto de perfumes suaves. Gosto de concertos. Não gosto que me buzinem quando acabou de ficar verde. Não gosto de me esquecer das datas de aniversários. Gosto de casas com janelas grandes. Não gosto de andar com guarda-chuva na mão. Gosto de chocolate quente com pastéis de Belém. Gosto de crer. Gosto de tentar. Gosto de gostar.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008