sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Convocatória.


Hoje mandei reunir todos os poetas, convoquei todos os amantes esquecidos para lhes comunicar que o silêncio veio passar uns dias á minha alma.

Brindamos, bebemos. O festim foi imparável...em segredo, pageio os livros que no pó dos dias me levam a ti... noite. Volto á reunião de sentidos extâseados para te dizer que " Estou farta disto!"... quero gritar o que as entranhas me propuserem e tu serás mero espectador de um café inacabado... Porque não cantas?! Sou simples...?! Embarquei no comboio sem reparar no descritivo do bilhete, fui por ir sem rumo aparente, guiada pela mordomia a que me acostumaram todos os meus sentidos, quando se encontram esquizofrenicamente numa folia vivida em dia migalha, raro é exalarem-se tão juntos.

Porventura, não percebi o tetragrama da tua música, vi-a a duas linhas quando a pauta deveria ter quatro, só te passeias pelos meus olhos negros e te enterneces pelo meu frágil ser, quando erradamente me deixo embarcar nesse frenesim de tudo ser, tudo querer...beija-me a noite, fiél companheira. Escuto as palavras...quem dera me olhasses feia, sumida, em lixo, e me exaltasses bela, única, tua. Queres que te descreva o dicionário analógico do que me sou?! experimenta-me...não me julgues por máscara de nevoeiro, é simples defesa para dias de inverno.

Brilha-me.

No dia em que tive medo de mim...


No dia em que subi a rua e tive medo de mim...
A respiração aterrou todos os sentidos, apressei o passo, na rua alguns vultos de um cansaço doente...fugi, quase...corri, quase... Eis que, sem medos, me volto decidida a enfrentar quem me perseguia mesmo a meu lado, cada vez mais perto de chegar a mim...
Olho em volta...sombra, era Eu.
Reflectida na calçada íngreme da noite...medo da sombra que sou e em que me vejo...
Sombra-me...

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Velho.


Este é o binómio do velho que levava o rádio na bicicleta, onde cantam em coro os arames das estradas percorridas. Na berma pára, para sustentar o dia e segue em vez de, sem cuidados...se enlear a ir. Sinal vermelho pára de novo...Vejo-o procurar a palavra do roteiro permissivo. Em vão.
Digo-te a pressa da estrada, porque me trazes na bagagem uma nuvem de lealdade.
Brilhas! Velho que te sentas de quando em vez no meu jardim...
Escuto-te.

só porque me têm acompanhado nos últimos dias...

these boots are made for walking...

Canta!


Constipei-me de mim na sorna dos dias que me ofuscaram a tempestade em que...deixei de te ver. estalaram-se os dedos e a portagem quebrava a certeza de nos sermos já em uma outra qualquer fronteira..ás vezes sei do canto em que, admiro!dedilha aquela música que sabes que sei, que gosto...a audição alerta-se e eu fico a espreitar velada na certeza de ser o primeiro bilhete da primeira e única fila desse concerto outrora nosso...canta...sei lá porquê...canta! não me façam questões...escrevo e digo e choro e rio...rio...sorrio...tudo isto é tão meu que...quem se sabe assim em mim, nunca me posa questões.