domingo, 5 de outubro de 2008

my state of misery!

Sinto-me mordaz no meu próprio sentir, por isso vou despir-me do vermelho fogo e vestir o tranparente com pedaços de real.

Já vivias no centro esquerdo mas resolvi fazer arrumações (aqui sou mordaz). A casa tinha pequenas poeiras que me provocaram asma. O sufoco rendeu-se mas suicidou-te primeiro. Não gosto de nada desarrumado mas vivo, no fundo, nesta desarrumação que me entorpece a alma. Saí. Fui desesperadamente procurar um supermercado que estivesse aberto...Não era necessário um hiper, bastava até a mercearia. Lixívia, ia comprar. Em qualquer local se arranja, pensei, mas preferia a do "branco mais branco não há". Percorri a avenida.Uff!!! Encontrei.


Achei ter ali a solução aquosa para resolver o meu problema de limpezas. Fui para casa, esfreguei, esfreguei, lavei-me toda com ela, raspei a pele já vi-a sangue, mas a sugidade não saía. Petrifiquei. O cheiro era insuportável. Fragilizei, fui-me deitar, entre tonturas pensei: Fui enganada. Esta lixívia não presta. Não funciona, não lava, não limpa. Peguei no frasco e pude ler: composto químico para limpeza e desinfecção de superfícies, muito utilizada como agente clareador. Possui excelente acção bacteriana. Dissolve substâncias orgânicas mortas.

Aqui percebi, na verdade não havia lixívia capaz de desinfectar, porque eu não queria limpar a superfície, de todo. Estava já no osso, na raíz, em cada víscera. E dissolver substâncias mortas era impraticável, porque tudo era, ali, vida em mim, cada célula, cada batida! Era suposto ser clareador...aclarar, limpar...

Tudo escuro, porém. Tudo negro...O meu centro esquerdo sangrava...dor insuportável de sentir.. Só queria clarificar-te em mim. Quem te mandou ir lá morar, cantar com tua voz esculpida a melodia quimera porque me apaixonei?! Ouço-te agora em voz muda e fria. Sim, foi bom, seria bom...


Tudo tretas, tudo a bosta de se viver sentindo tanto e tudo.
Sou eu quem não quero agora que mores aqui. Sai.

Esfrego de novo, não sais. Raspo, sai sangue, dói. Prefiro assim, arranco-te ao som da tua voz, agora fria, agora neve. Já não me beijas o sangue... e o meu estado é, realmente, miserável.

Nem vale a pena pesquisar, não há lixívia com componentes mais fortes.
Gosto tanto de ti....
Hesita, agora. Fica indeciso, confuso...sai do centro esquerdo.
Quem te mandou morar lá?! Pensava só ter aberto a janela, abri a porta. Entraste quase sem pedir licença, tu que te vestes, sempre, de boa educação. Perdeste as maneiras!?

Quero dormir e acordar feliz...da poeira, do sufoco, da mentira.

Sou feliz! Sou mesmo feliz! Menti-te tão bem, como pudeste acreditar em tais palavras?! Como não pudeste ver?! Não quiseste, talvez.

Saio. Pra comprar creme hidratante!

1 comentário:

Miguel Raposo disse...

Como é bonito(!), ainda que nos esventre tão tumultoasomente no meio da poesia justificadora de tal cena...