domingo, 6 de junho de 2010

...dança...


Começo a pensar no que seria discorrer a vida sem andar assim alienada, anestesiada..brinco, danço com o sentido de me estar aqui...come-se o mundo e ninguém entende..ninguém jamais entenderá esta visão multicolor que me escorre, me suga, me trai...ouço em sussurros milagres, instantes mágicos, meteoros que vão, que vêm que sonham..que se dizem ser e nem sempre se constroem..porque há tanto para lá de..espera...belisco-me. é real e no entanto é nada e é tudo! champagne e conhaque! é um brinde ao sangue que me jorra, me arde, me dança!

olhos negros que vêm cores multiplas em brancos e negros de cetim-veludo!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

cometa!


Não me venham com histórias uma alma não se serve á mesa.
Em frenéticas loucuras vem beber, mas com calma. Doce e estonteante. Baila em rostos e cores mas não cai, assim..de bandeja no meu prato. Procuro-lhe o rasto e o que vem a mais assusta o paciente, não crente no que á sua frente vê. É quase á lupa que lhe perseguem os sentidos, quem quer com vontade de rei ver uma alma. Mas não. Não se vê..nem a microscópio. E não me venham com aforismos, moralismos...ela roça-se assim nas vísceras...mas não se prova. Sente-se.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Esquizofrénico Saudável!


...Vagueio nos pirilampos de luz...das velas acesas...por ti.
Reservaste a noite para nós...em exclusivo toca o saxofone...em exclusivo o abraço...sincero, que promete uma nova dança...matámos à faca a ressaca da saudade, prematura, dirão porventura...Porém, como fugir-lhe?! Eu danço com os olhos entregues ao teu sorriso. Belo. Brindemos...na noite em que a dança se tornou o voo relâmpago para a Patagónia.

P.s: Esqueci-me da lua?!Eternamente culpada. Estava gorda e cheia.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

medo...(digo-me)


Medo…
M- medir-me, mortificar-me, materializar-me, modelar-me, manipular, medíocre
E- encontrar-me, envolver-me, emocionar-me, elucidar-me
D- duvidar, desconfiar, discernir, disfuncional, decidir, dizer-me,
O- oprimir, obscuro, ouvir, olhar, ofuscar, ocultar, omitir…

Medo do lado sombrio que me habita. Da rua clandestina que desço. Do bater ora veloz ora brando do meu músculo vermelho, do grito agudo, da palavra sussurrada em omitidos lábios, da egoística falta de seres, da cegueira, do holocausto, da catástrofe, da petrificação, do endeusamento a um outro que não eu, de acreditar 1000 vezes, de não voltar a acreditar, de correr sem respirar, de hábitos amarelentos, da rotina esquartejada, da altivez, do ruir do castelo, de nem chegar a construi-lo, de vísceras envenenadas, de falsos ruídos, de radares nos sentidos, da falta de pele, do senti-la em demasia, de ser queimada viva, da soberba de homens de ossos, da falta de dignidade, do idolatrar da ignorância, de cair sem chão, de tombar sem ver um braço, de definhar. De tomar sequer como aperitivo a arrogância, o preconceito, a insolência, a pretensão exacerbada, de me consumir em segundos diários, de atravessar a nado sem bóia, de comer em serviço gourmet um qualquer requinte de desonestidade e pudor, da deslealdade de quem me é, de não ver mais quem me faz parte. De microscópicamente ir lá bem fundo, de não deter o alfabeto gestual aquando da surdez e da mudez, de perder o mistério, de não querer mais partir, de tremer pela minha própria sombra, de tremer por uma outra sombra, da inutilidade, incapacidade, de me quadrificar, de ofegar sem ninguém ver, da amnésia, de não poder lavar mais os olhos com banha de sal, de cuspir o espelho, de perder - pra lá do sem limite - o controle, da overdose de tudo, de me fartar. De não poder mexer a mão, de não poder escrever, de ser ridícula, de ser dependentemente dependente, da esquizofrenia não ter pausa, do adeus, de insinuações, acusações, imposições, perpetuações, multidões, de não abrir a janela, de me faltar o preto e branco e a paleta multicolor, de escorregar na banana de inúmeros macacos, de esquecer o nome da minha árvore e lhe perder a raiz, de me deixar cair as folhas sem regar, de não poder pagar, de não poder gerar, do acidental, do homicídio involuntário, de não ver quem atravessa na zebra da estrada, da fome, da miséria humana, de me tornar miserável, do tumor, torpor maligno. Da morte chegar em pequenas doses, de perder a quimera, de não voltar a trincar com toda a vontade a maça, do amoral, do aborrecimento, do aborrecimento quando sentada na plateia, do tédio, do entediante no trabalho, de não sentir o vigor de ir em cada manhã, de não dormir, da insónia consecutiva, de amorfar, de me tornar amarga, de voar no animal avião, de cair dele, de mergulhar no vazio, da estupidez barata, da nudez gratuita, da venda de mim mesma, da cultura não deixar de ser bem capital - mercadoria de “show-business”, dos “pseudos tudos”, da falta de comunicação, de deixar de conversar no interlúdio de um qualquer tasco ou café, de perder o frente a frente em prol das inovadissimas tecnologias, da humilhação, má criação. De armas e tiros de novo ecoarem na minha cabeça, de perder a noção, de me esquecer da mãe Natureza, de perder tempo para o essencial, do banal, de não voltar a escrever cartas, de voltar a temer a morte da que me gerou, do frio, da solidão, da vergonha corrosiva, de não poder brincar, de não voltar a discutir ideais com a minha avó, do dia em que ela partir, da falta de tempo, de não abraçar, da dor aguda, real, de não ser mulher inteiramente, de me tornar robô, de me esquecer de mim, de não poder cantar, de não poder dançar, de me dizer aqui…medo de…ter medo.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Convocatória.


Hoje mandei reunir todos os poetas, convoquei todos os amantes esquecidos para lhes comunicar que o silêncio veio passar uns dias á minha alma.

Brindamos, bebemos. O festim foi imparável...em segredo, pageio os livros que no pó dos dias me levam a ti... noite. Volto á reunião de sentidos extâseados para te dizer que " Estou farta disto!"... quero gritar o que as entranhas me propuserem e tu serás mero espectador de um café inacabado... Porque não cantas?! Sou simples...?! Embarquei no comboio sem reparar no descritivo do bilhete, fui por ir sem rumo aparente, guiada pela mordomia a que me acostumaram todos os meus sentidos, quando se encontram esquizofrenicamente numa folia vivida em dia migalha, raro é exalarem-se tão juntos.

Porventura, não percebi o tetragrama da tua música, vi-a a duas linhas quando a pauta deveria ter quatro, só te passeias pelos meus olhos negros e te enterneces pelo meu frágil ser, quando erradamente me deixo embarcar nesse frenesim de tudo ser, tudo querer...beija-me a noite, fiél companheira. Escuto as palavras...quem dera me olhasses feia, sumida, em lixo, e me exaltasses bela, única, tua. Queres que te descreva o dicionário analógico do que me sou?! experimenta-me...não me julgues por máscara de nevoeiro, é simples defesa para dias de inverno.

Brilha-me.

No dia em que tive medo de mim...


No dia em que subi a rua e tive medo de mim...
A respiração aterrou todos os sentidos, apressei o passo, na rua alguns vultos de um cansaço doente...fugi, quase...corri, quase... Eis que, sem medos, me volto decidida a enfrentar quem me perseguia mesmo a meu lado, cada vez mais perto de chegar a mim...
Olho em volta...sombra, era Eu.
Reflectida na calçada íngreme da noite...medo da sombra que sou e em que me vejo...
Sombra-me...

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Velho.


Este é o binómio do velho que levava o rádio na bicicleta, onde cantam em coro os arames das estradas percorridas. Na berma pára, para sustentar o dia e segue em vez de, sem cuidados...se enlear a ir. Sinal vermelho pára de novo...Vejo-o procurar a palavra do roteiro permissivo. Em vão.
Digo-te a pressa da estrada, porque me trazes na bagagem uma nuvem de lealdade.
Brilhas! Velho que te sentas de quando em vez no meu jardim...
Escuto-te.

só porque me têm acompanhado nos últimos dias...

these boots are made for walking...

Canta!


Constipei-me de mim na sorna dos dias que me ofuscaram a tempestade em que...deixei de te ver. estalaram-se os dedos e a portagem quebrava a certeza de nos sermos já em uma outra qualquer fronteira..ás vezes sei do canto em que, admiro!dedilha aquela música que sabes que sei, que gosto...a audição alerta-se e eu fico a espreitar velada na certeza de ser o primeiro bilhete da primeira e única fila desse concerto outrora nosso...canta...sei lá porquê...canta! não me façam questões...escrevo e digo e choro e rio...rio...sorrio...tudo isto é tão meu que...quem se sabe assim em mim, nunca me posa questões.